Com a polémica imposição às escolas dos serviços mínimos, na qual há quem veja, aliás, um grave desrespeito pelo direito à greve, e cuja tutela constitucional não pode ser letra morta, o Governo desnudou a sua verdadeira imagem (miserabilista!) da Escola Pública: a escola dos serviços mínimos. Por outras palavras: desde que as portas estejam abertas para acolher os meninos e lhes dar a sopa, parece que os pais ficam satisfeitos, ainda que não haja aulas nem professores.
Trata‑se de uma desqualificação da agência republicana por excelência, porque lhe cabe, de facto, a grande responsabilidade (indeclinável, de resto) de garantir a igualdade de oportunidades, de que depende a saúde, como sabemos, de uma autêntica democracia. Ora, a caminho do cinquentenário da Revolução de Abril, não poderia ser mais triste, enfim, a realidade educativa nacional: assistimos, à revelia dos ideais de 1974, à paulatina criação de condições sociopolíticas susceptíveis de promover a total privatização do ensino.
Eurico de Carvalho
In Público, n.º 11 970 (7 de Fevereiro de 2023), p. 6.