A DERROTA DE PINTO DA COSTA, O VITORIOSO

Não é hoje o momento de se pôr em letras de ouro a biografia do homem cuja vida (cheia de vitórias) se confunde com o último meio século (imortal, deveras) do F. C. do Porto. Agora, pelo contrário, trata‑se de registar a implume derrota — eleitoral — do maior dirigente desportivo de sempre (à luz dos títulos ganhos) de todo o planeta. Ao cabo de quarenta e dois anos de presidência (antecedidos, de resto, de algumas temporadas de chefias intermédias em vários departamentos do clube azul‑e‑branco), eis que Pinto da Costa deixa de ser oficialmente, para alívio de muitos e raiva de poucos, o que já não era realmente: o número um dos portistas. Após a ressaca dos votos que lhe ditaram a sorte dos vencidos, talvez se interrogue, qual Hamlet momentâneo, sobre o seu futuro: «Já não sou quem fui… Como hei‑de ser o que nunca tinha sido?» Indubitável, no entanto, é o seu legado esmagador: são mais de mil e trezentos troféus a brilhar — no museu que há‑de ter o seu nome.

 

Eurico de Carvalho

 In Público, n.º 12 417 (1 de Maio de 2024), p. 6.  

In Expresso, n.º 2 688 (3 de Maio de 2024), p. 33.

 

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