A ESPADA DE D. DINIS

Cumprindo o seu papel de jornal de referência, o PÚBLICO deu o devido destaque à descoberta odivelense da espada de D. Dinis (cf. edição de 5 de Novembro). Trata‑se, de facto, de um novo tesouro nacional. Mais importante, porém, do que conservar os adereços tumulares de el‑rei (havemos de convir…) é ter presente a memória dos seus feitos. Entre muitos, apraz‑me sublinhar a adopção do Português como língua oficial do Reino e, ainda, o incremento do Pinhal de Leiria. Por que razão importa trazer à luz estes acontecimentos do século XIII? Porque Portugal se confronta existencialmente, em pleno século XXI, com duas espécies — invasoras — que aviltam a herança dionisíaca, a saber: o «portinglês» e o eucalipto. Num caso, assistimos à desnaturação da nossa identidade linguística — em prol de um novo‑riquismo apátrida e analfabeto. No outro, depara‑se‑nos uma floresta (assolada pelos incêndios) que está nas mãos da indústria de celulose, não contribuindo, pois, para a captura do carbono, mas para a sua crescença, com o consequente agravamento das alterações climáticas. Haverá melhor retrato, porventura, desta «apagada e vil tristeza» do que a incúria com que o Estado tem gerido o Pinhal de Leiria?

Eurico de Carvalho

In Público, n.º 11 881 (8 de Novembro de 2022), p. 8.

 

P. S. — Infaustamente, a versão impressa apresenta dois cortes ocultos, sendo eles, precisamente, os sublinhados.

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